Não é bairro, rua ou recanto. Nem
prédio com varandas e paisagem. Nem casa de vila ou terreno baldio. Esta
vizinhança é outra. Nada a ver com o de fora. É terra do de dentro. Guardada.
Vielas e becos de emoções e sentimentos.
Estou convencida. Habitamos amores
e paixões e raivas e medos da mesma forma que escolhemos moradia. Às vezes,
alugamos por um tempo. Às vezes, construímos do alicerce. Às vezes, pagamos hipoteca.
Às vezes, herdamos como filhos.
E aí é que entra em cena a
vizinhança.
Em nosso bem lá dentro, tem um
coração feito uma praça. Com bancos de madeira e alvenaria. Tem coreto. Tem um
lago. E árvores centenárias que refrescam os verões e se entregam a ventanias.
Ao redor da praça, antigos e
novos sentimentos se dispõem, sem planejamento. São velhos casarões com escadas
curvilíneas ligando pavimentos e lembranças. São modernos arranha-céus que ferem
a nossa alma e fazem arder, arder, até que nossos olhos lacrimejem.
Caminhamos por ruas feitas de
saudade e, no cair da noite, esperamos o acender das luzes para poder ver
antigas cenas com clareza.
E se pensamos que há silêncio ao
redor, esbarramos em uma algazarra de sons diluídos pela vida. Risos, cochichos, gargalhadas. Histórias
contadas pelas tardes. Histórias sussurradas noite a dentro.
A vizinhança é feita de vidraças,
por onde se pode ver, entre cortinas de veludo ou de voil,
espelhos bisotados e um rosto de menina.
E, quando pensamos que sabemos o
caminho de chegada a nossa porta de entrada, ao número da porta e ao capacho
dizendo bem vindos, nos perdemos por
atalhos, paramos a ver vitrines de lojinhas.
A vizinhança nos liberta e aprisiona
com sua urbana teia de incertezas.
Sentimentos... Emoções... Lembranças...
E equívocos. São os nomes de travessas e avenidas.
Como se chega a nossa porta de entrada?
Por um lance de escada? Ou por um beco sem saída?
(in
pblower-vistadelvila.blogspot.com)
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