Ana, a nova professora de francês, andou visitando meus poemas. Entrou em meu outro blog, ainda em construção, onde pretendo algum dia, algum dia!, deixar registrado o que escrevi e publiquei lá pelos idos de minha juventude. Ela leu e me fez a pergunta que não tem resposta. [Ai! quantos anos de análise!] A pergunta dura. A pergunta que hoje já não me machuca... [Viva os tantos anos de análise]:
Patricia, você não escreve mais Poesia?
Respondi como sempre respondo: Não. Acho que não sei mais escrever poemas. (Já consigo responder com naturalidade... [Muitos anos de análise!])
Fiquei pensando... Pensando... A resposta verdadeira talvez esteja neste poema que encontrei hoje, ao acaso, revirando antigos papéis.
Talvez o poema possa explicar, não a minha incapacidade, mas pelo menos, a minha profunda angústia por não conseguir escrever mais Poesia. (Já tive, há muito tempo, o olhar vagabundo, despudorado e mágico dos poetas... Já tive.)
Talvez o poema consiga retratar a minha angustiante paralisia.
MOVIMENTO (24/10/99)
vértebra
de mim
pedaço
filha
e parceira
pedaço
vértebra
arrancada de mim
sangue
que jorra
sangue
que forja
o
que há de mim (em mim)
pedaço
laço
eu
vértebra
de mim
menina
mina
roça
agreste
palmo
de terra sofrida
pedaço
de mim (em mim)
me
arranha
me
empurra e machuca
em
seu silêncio
de
nãos
vértebra
de mim
pá
e pó de minha vida
eu
às avessas
pó
desespero
desencontro
desespero
vértebra
de mim
ungüento
minha
ferida aberta
exposta
ruptura
de tudo
com
tudo
ranger
de minha alma
(velha
porta entreaberta)
vértebra
de mim
pó
foge
entre meus dedos
suja
as minhas mãos
e
há desespero no seu/meu não dizer
silêncio
angústia
pó
eu
só
naco
de mim
saudade
travo
na língua
saudade
de
mim (que era eu)
onde eu
estou?
vértebra
de mim
fugidia
só
me sangra
só
me machuca
naco
de mim que se nega a falar
silêncio
silêncio
pó
só
poesia
eu
(não)
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)
2 comentários:
Para mim, a foto fala (grita?) pelo texto.
Começo um sábado em emoção despudorada com esse poema que acho eu ainda não conhecia (?).
Também não escrevo mais poesia. Muito raro. Nossas mães escreviam... o que deu no nosso DNA, eu sinceramente não sei.
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