Uma aleia milenar. Simétricas ruínas a céu aberto. Pinheiros italianos. Gramíneas e pedras. Uma lata de lixo e uma pinha... Ostia. Itália. Uma primavera guardada a sete chaves em meu coração.
O olho foi misturando os elementos e ângulos até que descobriu, por acaso, uma instalação. Dessas de arte contemporânea. Como a maioria delas... Sem título.
Cada vez mais acho que a vida é uma instalação. Uma instalação que tem por suporte qualquer tempo e lugar. Nas mãos de um artista inquieto, vai se moldando ao acaso em um planejamento despojado. Irritantemente despojado.
Pedaços de coisas e eventos e histórias vão se interligando em um quase quebra-cabeças. Em uma tela que vira um tapete. Em uma teia que vira uma aranha. Em uma trama que vira destino.
A vida é instalação de artista jovem e pós-moderno. Daqueles que negam a História e os ensinamentos dos Mestres. Daquele que renega letras maiúsculas.
Em seu eterno aprendizado, em sua arrogância de aprendiz, vai nos moldando a partir de destroços. Despojos. Somos uma reinvenção. Multissensorial reinvenção.
Entramos pelo mundo, como diria Caetano, pelos sete buracos de sua cabeça. Por seus olhos, boca, narinas e orelhas. Chegamos sem avisar.
Nós e nossa vida que é única e tão igual a tantas outras... Noz cheia de dentes deixada sobre uma lata de lixo em uma aleia milenar... E, entre simétricas ruínas, somos gramíneas e pedras... Somos caminho e primavera... Somos pinheiros mediterrâneos e uma cidade que já não mais é. Um quase museu. Um quebra-cabeças. Um mapa, sem mina. Óstia, um porto sem marés ou navios...
Uma instalação...
E, como tantas, sem título... Sem título.
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)
Um comentário:
Muito, muito bom!
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