e é por miséria
que
se entrega a filha nova
ao
gozo
do
capataz do coronel e do patrão
doce
pátria prostituta
e é
por fome
que
se oferta a prole
à
cafetina gorda
de
um bordel de estrada
pobre
pátria marafona
e
se barganha a mãe
por
farinha e carne magra
com
o padre o pastor o magistrado
meretriz
nação
e
sem postura
se
dá a prima
em
aventura
ao
gerente ao diretor ao secretário
à
paga de um salário
frega
fraca
terra
muda
e
do filho imberbe
se
negocia o rabo
com
o alto comissariado
por
um pedaço de pão
marafaia
mariposa
terra
de vera cruz
e
também a jovem esposa
vai
no lote dos vendidos
por
um teto catre alcova
fêmea
pátria decaída
vai
ainda de lambuja
por
um arado e sementes
a
filha caçula de todas
pro
chefe pro presidente
terra
perdida
terra
de pala aberto
terra
errada
cadela
quenga
zabaneira
e
quando não há mais nada
que
se possa ofertar
sobra
a alma
e a
carne podre
pro
cônsul pro da embaixada
a
vida se dá em paga
pátria
à-toa
pátria
amada
pra
sempre serás
servil?
...................................................................
Escrevi este texto há anos atrás, em uma época de muita falta de esperança. Nunca o publiquei e sempre esperei que os tempos de maus ventos ficassem no passado, como um velho naufrágio.
Depois vieram tantas coisas, vi a minha pátria de cara limpa e pintada de verde e amarelo. Rostos jovens e limpos com seus olhos de bússola à procura de um caminho para um país melhor.
Hoje achei este texto antigo. Esquecido na gaveta, fazia novamente sentido no emaranhado das marionetes ou dos mercenários. Rostos cobertos... Por que será que tenho esta angustiante sensação que são paus-mandados, que são paus-bem-pagos (Por quem?).
No puteiro dos interesses, pobres meretrizes seguindo ordens de velhas cafetinas. Sem alegria... Sem esperança... Carne podre e obediente. Feras amestradas... Estas hienas de burca.
Quem lucra com o espetáculo? Quem será o dono do circo? E quem será o malabarista, o mágico, o domador e o leão?
O palhaço... Ah, este eu sei quem somos. Este eu sei... Este eu sei.
Nota: Imagem tirada do Google.
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)
Um comentário:
Lindo,querida, impecável!
Impecavelmente triste, pontual, mensageiro!!!
Adoro seus textos!
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