Mabel costumava dizer: Ai, Pat, a vida é dura! E Silvio tomou a fala como mantra e mote e vive repetindo: É como diz Mabel... A vida é dura.
Conheço um bocado de gente (incluo-me nesta tribo) que gostaria de controlar a vida como se fosse escritor de novela, uns tantos capítulos de perigo, mas sempre um final feliz.
Mas a vida tá na dela. Escorre por nossas mãos. Foge por entre os dedos. É areia... Movediça!
Mas a vida tá na dela. Escorre por nossas mãos. Foge por entre os dedos. É areia... Movediça!
Levei muito tempo de análise para entender que a vida é precária. A vida não dá mole pra ninguém. No meio do salto, lá bem no alto, ela sopra um vento de lado e a gente cai de barriga, de queixo ou de bunda. E fique feliz se só ficou arranhado, que tem muitos que não se levantam nunca mais.
Foi ontem que a sobrinha me disse: Ai, tia, é muito difícil! A vida é muito difícil. E eu respondi por instinto: É... Na vida, a gente tem de aprender a fazer puxadinhos.
A vida não é lançamento de construtora famosa, com banner, folheto e apartamento decorado. Que nada. Não dá pra se comprar na planta, que nem planta tem.
Se a gente tem sorte, consegue fazer, de inicio, um alicercezinho. Depois, cada dia é um dia e o que a gente pode fazer é ir ao sabor e ir fazendo uns puxadinhos.
Apertou de um lado, joga um segundo andar com teto de amianto e janela de alumínio. Se der, pinta de branco, se não der, deixa no tijolo mesmo e reza pra aguentar.
Apertou do outro lado, cava um pouco do barranco, põe mais um quartinho e reza pra não chover.
Sobrou um dinheirinho, corre uma laje e põe churrasqueira e piscina. E reza pra fazer muito sol e ser de vez em quando domingo.
E se tem festa na laje, tem também dia de bala perdida. E se o terreno tá pacificado, a gente festeja e vai aprender alguma coisa nos cursos e nas escolinhas.
E um dia vem a chuva e leva tudo junto com a lama e a gente tem de recomeçar. E como chove de quando em quando, porque às vezes é verão, a gente recomeça... E recomeça... E recomeça.
E recomeça no susto, tirando a casa do lixo. Mas depois... Mesmo sem alicerce, a gente vai construindo paredes e janelas e varandas. Vai criando puxadinhos. E se der, a gente pinta a casa de rosa ou verde ou de um azul bem azulzinho...
A vida é precária e difícil. É feita de inesperados e surpresas. É feita de acasos... Cada dia é outro dia. Se quiser controlar, morre tentando. O negócio é ser criativo. Abrir espaços e... Construir puxadinhos!
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)
3 comentários:
Nesse quesito já fiz um complexo projeto de arqitetura. o problema é que nem sempre temos o metrial necessário, isso sem falar que a mā de obra nem sempre corresponde! bjs
Eu vou seguindo, de puxadinho em puxadinho, tentando fazer conexões entre eles e não me perder em um labirinto. Eu vou seguindo, minha Pat, me inspirando em tantas Pats, enquanto busco as tantas Carlas de mim mesma. Saudades. BJS
Haja puxadinho,querida, haja puxadinho.
O que vale, no entanto, é a vista que se tem quando se chega à janela... ou... ao puxadinho...
bjs!
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