Querido Niño Jesús,
Eu sei que já faz algum tempo que não lhe escrevo, mas esta coisa de ter Papai Noel como intermediário sempre me incomodou muito. Como estou aqui em Caracas, as coisas ficam mais fáceis, pois por aqui as cartas vão direto para você. Isto é certo. Pode perguntar a qualquer criança da cidade. Então decidi lhe escrever.
Antes de tudo, quero lhe dizer que acho que tenho sido uma ótima aluna. Tenho aprendido muitas coisas novas e feito um grande esforço para desaprender algumas que já estão muito antigas, ultrapassadas mesmo. Esta tem sido a maior dificuldade... Pobres de nós, mortais! Como é difícil desaprender os vícios!
Vou também lhe contar um pouco do que está se passando por aqui. Dia 1º., La Cruz Del Ávila foi acesa com pompa e circunstância para o inicio das celebrações navideñas, mas, este ano, por motivos de racionamento de luz, ela só vai ficar acesa das seis da tarde até a meia noite. Perdi minha companheira das madrugadas no mês de dezembro. Não faz mal, pelo menos ela foi acesa, o que já dá uma ponta de esperança.
Os centros comercias também estão menos iluminados, mas a abundância de presépios permanece. Los pesebres não podem faltar. Tem presépios de todos os tamanhos, formatos e materiais. De metal, plástico, vidro e até de tagua, que é uma semente que parece marfim.
Todas as famílias já estão mobilizadas comprando os ingredientes das hallacas e já se pode comer el plato navideño em muitos restaurantes da cidade (hallaca, pan de jamón, ensalada de gallina e de sobremesa dulce de lechosa). Depois querem saber porque eu engordei tanto... Tem a ver com os vícios!
Mas para quê eu estou lhe contando tudo isso, se eu sei que você está bem pertinho, olhando a cidade lá do alto de Galipán. Pelo menos é o que diz uma antiga canção de Natal... (El niñito baja desde Galipán, viene con sus flores y sus mil colores para los regalos que vienen y van [Bis])
Sabe, a cidade pode estar um pouco mais escura e com falta de água, mas a lua tem estado perfeita nestas noites límpidas de dezembro. Há coisas que não abrem mão de ser o que são. Não mudam. Nem de cor. Nem de direção. Não seguem ordens. Têm seu brilho próprio. E, talvez por isso, sejam sempre mais brilhantes.
Este ano, eu vou pedir um pouquinho mais. Afinal, eu me comportei bem e até aprendi a cozinhar! Então, aí vai o meu pedido: Olhe com muito carinho por esse povo que me recebeu tão bem. Por esse povo que sempre está disposto a me ajudar. Por este povo que entende o meu espanhol de pé quebrado quando grito !Ayudenme!. Se você estiver muito atarefado, por favor, peça a senhora sua mãe, que aqui tem muitos nomes (Coromoto, Chiquinquirá, Del Valle...) para te ajudar. O importante é ter sempre alguém que esteja pendiente, para que eles nunca fiquem sozinhos.
E assim, vou terminando minha cartinha que eu sei que você vai ter que ler muitas outras mais.
Patricia
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)
6 comentários:
Patrícia,
Essa foi a carta ao Menino Jesus mais emocionante, bonita, simples e sincera que alguém poderia escrever.
Me emociona o seu carinho pelo ppvo daí, me emciona a sua relação com o Monte D'Ávila, me emociona sua poesia.
Ah, que bom foi vir aqui bem cedo e ler esta maravilha....
Beijos,
Lúcia
Ticha, nem preciso dizer que estou em lágrimas. Segurei até o chiuaua...
Ainda está muito difícil lembrar. Marie está dormindo ao meu lado, o que me lembra que eu sou uma sortuda.
Que el Niño Jesus atenda todos os seus pedidos, feito aí tão de perto. Você merece todos eles...Quem sabe, Tiffy não reencarna num Chiuaua tão meigo ou meiga como ela. Nós tivemos o privilégio de conviver com aqule bebê peludo.
Que venha seu presente.
Beijos
Ah, amiga, que doce a sua carta! Não dá para não se emocionar. Você é tão autêntica, aberta, sincera e o que você escreve transparece tudo isso.
Você abraça as situações, as pessoas e os lugares com tal simplicidade e acolhimento que tudo se transforma. O Ávila já faz parte da sua vida e da nossa, passei a ter um extrema simpatia pelo povo venezuelano através de você. E seus amigos passam a ter um significado uns para os outros, tenho certeza. Isso tudo sem mencionar a sua inquestionável capacidade de narrar, descrever, dissertar, fazer poesia em versos e em prosa...
Obrigada, mais uma vez você nos brindou com uma jóia de rara sensibilidade. Até fiz as pazes com o Menino Jesus enquanto lia o seu post. Rsrs.
Beijo grande
A Mafalda do Quino pediu uma vez que esse mesmo sol que iluminou um dia Newton, Beethoven e os Curie a iluminasse também. Que nos ilumine a todos!
Bjs,
Mônica
Querida,
seu texto é mesmo especial. Retribuo com a singeleza de Wolô, em um pedaço de poema:
No Natal a gente sempre agradece
Por Jesus ter nascido em Belém
Mas nem sempre se lembra na prece
Que ele nasce na gente também
Por tornar esta vida bonita
Mesmo sendo este mundo cruel
Pelo Espírito que em nós habita
E o caminho que nos leva ao céu
Pelas flores que têm florescido
Por que eu posso cantar a canção
Obrigado meu Jesus querido
Por nascer dentro em meu coração
com carinho
Marilia
Querida Patrícia, é muito difícil não fazer de tudo para realizar seus pedidos. E Ele, que nunca tirou os olhos de nós, não irá fazê-lo agora. A carta é primorosa e merece resposta a altura.
Obrigada por se lembrar sempre dos amigos a quem você faz tão bem. Muitos beijos carinhosos para você e para o Silvio.
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