Em menos de dois meses, foram mais de dez cidades e seus arredores, sem contar com o Rio de Janeiro. Rio/ Houston/ San Francisco/ Los Angeles/ Rio/ Londres/ Paris/ Rennes/ Monte Saint Michel/ Bordeaux/ Saint Emilion/ Carcassone/ Mointpellier/ Sete/ Chartres... E aí Paris, Londres, Rio.
Ufa! Um périplo! Diferentes fusos horários. Temperaturas diversas. Paisagens distintas. Diferentes nuances de cores. Luminosidades variadas. Múltiplos sentimentos.
Foram duas viagens em uma... A minha viagem. Aquela a que Drummond chamaria de a dangerosíssima viagem de si para si... Enquanto percorria caminhos, ia me visitando. A mim, esta paisagem que tantas vezes me surpreende, me emociona, me decepciona, mas sempre me convida (ou instiga) a seguir.
Se a viagem exterior foi encantadora e prazerosa, a interior teve os seus percalços e surpresas. Mas, nestes dias, descobri em mim pequenos atalhos, trilhas escondidas em bosques, pontes (ainda que frágeis) onde só havia a espera por balsas que sempre estavam do outro lado do rio.
A cada passo à frente, olhava para trás um pouquinho para ver se havia deixado pegadas ou algum vestígio de minha passagem. E foi a trilha já feita que me ajudou a seguir o caminho. A escolher direções quando encruzilhadas surgiram. (Um dia, há muito tempo, escrevi: Por que caminhos, estradas e becos? Por onde chegar?) Naquele dia, eu era uma quase menina. Tinha por mapa e bússola meus sonhos. Hoje, a pergunta é a mesma. E tenho como bússola e mapa minha história de vida e o desejo de continuar. Chegar, deixa para mais tarde, que o que encanta é a própria viagem.
Perambulei por dois continentes e por minhas angústias e alegrias. Me dei tempo ao tempo. Tropecei em arcoíris (assim mesmo, tudo junto, compactos e sem plural) e em pequenos milagres. O silêncio de uma abadia... Um concerto de Vivaldi... Vitrais... Uma missa inesperada... Uma ponte dourada... Conchas de Santiago... Um amanhecer... A beira de um rio... Um vento forte... Frio... As mãos se aquecendo no calor de uma xícara de café... Silêncio... Uma taça de vinho (Em Sonoma ou em Bordeaux. Que importa?)... Um pier e um castelo... Um templo hinduísta na zona 3... Silêncio... Eu.
Eu... Esfinge... Anônimo monumento... Árvore perdida em um parque enferrujado de outono... Ruína de outros tempos... A me contar por vestígios... Minhas pequenas pedras... Meus cacos de cristal... E um candeeiro ainda com algum azeite... Pronto para iluminar.
Foi longa a caminhada. Quase uma peregrinação. E quando me vi diante de direções, às vezes tão opostas, busquei escolher o melhor caminho.
E foi em um parque, na terra de meu avô, em uma placa azul e pequena que entendi o que busquei por toda a minha vida: Please ride considerately.
Mais do que a direção escolhida, o que sempre contou para mim foi o respeito e o cuidado comigo e com o outro. O outro... Seja ele um mero transeunte. Ou um parceiro de viagem. Ou o meu reverso perdido em espelhos. Ou o que vem intencionalmente na direção oposta. Ou aquele que só passa por mim. E nem me vê...
Entre todas as placas, aquela placa, azul e pequena, é o que indica o meu norte e não me deixa, nunca, me perder.
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)