Desde que começamos a falar em ir a Nova York, a ideia não saiu mais da minha cabeça. Eu iria ao Ground Zero. Porquê? Por muitas razões. Curiosidade histórica. Onipresença de turista que quer estar lá, naquele lugar, para dizer... Eu estive lá. Vontade de ver in loco o ponto geográfico onde a História se perdeu e se reinventou. Ali, onde o século XX terminou.
Havia uma outra razão que, confesso, tenho um certo pudor de mencionar. Medo de soar piegas... Queria estar lá para pensar naquelas pessoas que estiveram lá, naquele momento, presas do acaso. Desfeitas em um grito, em calor de mil graus, em um salto no infinito, em susto e silêncio.
Pessoas tão comuns e cotidianas quanto eu. Anônimas pessoas que acordam e tomam o café da manhã e vão trabalhar e esperam voltar para casa ao final do dia. Pessoas possíveis com seus sonhos, ódios e paixões. Pessoas, independente da nacionalidade, ideologia, credo, raça, orientação sexual... Pessoas, cotidianas e comuns. Pessoas entregues à vontade do destino e a decisões alheias. Assim somos nós... E alguns de nós estiveram ali, aprisionados por aquela manhã de setembro. Ícones de nossa precariedade.
A minha primeira visão do Ground Zero foi ainda de longe. As novas torres (estas bem mais baixas) sendo contruídas. O vendedor de livros sobre o lugar... Foi ele que nos indicou onde pegar os ingressos para entrar no local. E foi ele também, um rapaz equatoriano bem simpático, que nos informou que o Ground Zero estava a umas quatro quadras dali.
Mas era ali que dava para ver aquele ângulo tantas vezes repetido ao longo dos anos pelos programas de TV. O segundo avião atingindo a Torre e dois homens olhando para cima incrédulos. Repeti o gesto deles e olhei para um céu manchado de nuvens.
Com os ingressos já nas mãos, fomos andando até a entrada. As ruas estreitas indicavam por onde a nuvem gigante de poeira passou.
Chegamos e entramos em uma longa fila com cinco paradas para checagem dos ingressos. O lugar ainda está em obras e nos tapumes algumas referencias ao evento...
Achei irônico e comovente ver a bandeira feita com os nomes daquelas pessoas comuns, cotidianas e anônimas que estavam lá naquela manhã feita de terror.
Seguimos... Até o parque. O marco. O ponto. Ground Zero. Estávamos lá.
Uma simplicidade em verde e cinza. Um burburinho quase silencioso. Um lugar... Aquele lugar, onde tudo aconteceu tão rapidamente, nos convidava a ficar ali sem nenhuma pressa. O tempo suspenso na precariedade da vida se equilibrava em uma corda bamba no ar.
Passamos pela única árvore que testemunhou o evento. Prova bem frágil de que, às vezes e por acaso, se consegue sobreviver...
E chegamos às Torres às avessas, feitas de um eloquente vazio. Não são fontes... Não são lagos... Não são cascatas... Não são.
E a minha frente, os nomes... Daquelas anônimas pessoas que estavam ali naquela manhã de terror.
Rezei... Acariciei alguns daqueles nomes sem rosto. Tão iguais a mim. Comuns, cotidianos e impotentes. A mercê do destino e de decisões alheias... Iguais a tantos outros que se vão a cada dia, todos os dias... Os filhos do desencontro.
Houve uma manhã em que dois aviões atingiram edíficios... Olhei para cima novamente e, desta vez, era o céu que invadia as janelas... Quem dera que fosse um indicio de utopias... Quem dera... Quem dera...
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)