Esta semana decidi passar um dia visitando alguns museus da Vila Borghese. Primeiro a Galeria de Arte, com direito a seguir todo o protocolo: hora marcada para a visita, bolsas revisadas e guardadas em lockers, e a delicia de passar duas horas entre quadros e esculturas. Se sò hovesse na Galeria as esculturas de Bernini, jà valia a visita e os oito euros e cinquenta da entrada. Gente das mais diferentes nacionalidades, em silencio respeitoso, disfrutavam da arte. Fico pensando o quanto de belo que o ser humano pode produzir e como ele é capaz de gastar tanto tempo criando holocaustos e hecatombes. (Pobres de nòs, pobres mortais.)
Visita feita, decidi seguir meu caminho rumo ao Museu de Arte Moderna e ao Museu Etrusco. As placas iam indicando a direçao que eu seguia atentamente. Com o passar do tempo comecei a me preocupar. Chegar aos museus, eu chegaria, mas o problema seria voltar, pois todo o caminho era uma descida, o que significava que a volta seria subir a ladeira. Se minhas pernas jà estavam se ressentindo da ida, para a volta eu ia ter de encontrar um plano B, talvez encontrar a parada de uns dos muitos onibus que tem me ajudado a ver a cidade.
Queria começar pelo Museu Etrusco, mas o que primeiro se apresentou foi o de Arte Moderna e nao me fiz de rogada... entrei.
Depois de passar pelos tramites de segurança, adentrei o seculo XIX, entre esculturas e quadros. De repente um burburinho e um SHIIIIII aflito e rouco, tipico de professora quando jà nao sabe o que fazer para conter a turma. De repente me vi cercada de grupos de adolescentes e de seus professores. Formavam grupinhos diante das obras e, enquanto os guias explicavam o engenho e a arte de pintores e escultores, os alunos adolesciam. Alguns de olhos vagos e distantes se escorriam pelos poucos assentos das salas. Outros, mais afoitos se belisavam, cochichavam, riam baixinho. Tinha o grupo dos Ipodistas. Enfado e musica alta. Havia tambem duas moçoilas perdidamente apaixonadas pelo professor jovem e de gola role. Um casalzinho iniciava um romance. Os guias tentavam transformar o evento em algo memoravel e inesquecivel (isso me lembra algo), mas nao havia nenhum botaozinho nas obras, nenhum joy stick, nada que possibilitasse àqueles seres qualquer interaçao com o evento artistico. Entre as obras e os alunos, em um espaço menor que tres metros, seculos de gap. Um dos guias até que era bom. Falava, perguntava, mas as respostas normalmente eram monossilabicas e equivocadas (para desepero dos professores que juravam de pé junto que jà tinham dado esta materia).
Fiquei olhando e me distraindo com a cena. Afinal, para meu bem, eu nao era nem guia, nem professora, nem aluna. Era apenas uma mera observadora. Afinal, aquilo nao deixava de ser arte, em todos os sentidos.
Passei ao segundo andar e ao seculo XX. E foi là, em uma das salas, que vi, espalhadas pelo chao, um grupo de crianças de seus seis ou sete anos desenhando. Reproduziam seus quadros favoritos. (Quantas vezes fiz isso em minhas aulas! Mas acho que a tecnica ainda funciona). Fiquei surpresa de ver como Mirò faz sucesso entre esta faixa etària. Por que serà?
Fui me esgueirando entre aqueles corpinhos em pleno processo de criaçao.
Jà saindo, tendo voltado ao primeiro andar e ao seculo XIX, reeencontrei os adolescentes, os guias e um SHIIIII seguido de uma professora exausta.
Sorri.
De repente meu olho bateu em uma menina de seus treze anos. Estava em um canto sala. Nao fazia parte do grupo das "muito boas alunas" que ficam no gargarejo para mostrar serviço. Nao. Quietinha, no fundo do grupo. Seu olho olhava e via e ela copiava e acompanhava o dedo do guia em seu voo entre esculturas e quadros. Sem a necessidade de botoes e joy sticks inter-agia.
Sorri e, plena de vida, segui para o Museu Etrusco.
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)