quinta-feira, 31 de outubro de 2013

GAROTA, EU TÔ...

Esta semana, não tem história, reflexão ou poema. Esta semana tem aviso. Oportunidade de viagem não se perde... E a chance surgiu!

Garota! Meninos e meninas! Estou na California... Em San Francisco! E, quando voltar, prometo, levo um monte de histórias para contar.

Por enquanto, venham comigo, surfar nos dias... Com olhos de ver!






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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O QUE SERÁ QUE ELES TÊM?


Em uma dessas noites em que o sono veio, mas depois sumiu. Numa hora torta como costumo chamar, liguei a televisão e peguei por acaso a reprise de uma entrevista com um filósofo rabino de quem não guardei o nome, pois essas minhas súbitas insônias me provocam eventuais amnésias.

Mas nada disso tem verdadeiramente importância. O que valeu mesmo foi que a certa altura da entrevista, quando perguntado sobre a crise mundial e sobre as mazelas humanas, o filósofo rabino, do alto de seus mil anos e por de trás de suas brancas barbas deu um sorrisinho maroto e me segredou: Há que se ser otimista.

Pensei que tivesse caído no sono e estivesse sonhando, porque alguém, não só filósofo como também rabino, falando de otimismo me pareceu ficção.

O programa terminou e eu fiquei remoendo...De onde se pode tirar otimismo neste inicio de século, em meio ao mundo com suas mazelas e crises?


Márcia veio jantar com a gente ontem. Quando tocou a campainha, Marie correu pressurosa em direção à porta,  saltitante e latindo. (Ela salta quando late). Porta aberta e saudações de ambas as partes. Latidos entrecortados por habituais comentários: Como você está minha pequenininha? Tenho medo de te pisar! Você está lindinha!

Fomos, as três, eu, Márcia e Marie em direção à sala. Marcinha se jogou na poltrona, exaurida e encalorada, e fechou a série de cumprimentos: Vem cá, pequenininha. Você quer carinho?

E, então, olhou para mim e sentenciou: Uma coisinha assim enche a casa, né?

Enquanto a cena acontecia, Carol chegou na sala também e ficamos todas ali, rindo muito. Tudo uma grande brincadeira. Um recreio. Descompromisso.

Uma coisinha pequenininha, como diz Márcia. Não chega a ter dois palmos de corpo e não pesa mais que um quilo e meio. E, a sua volta, a festa se faz. Sempre.

O que será que esses bichinhos têm? Que nos fazem sorrir. Que nos fazem esquecer. Que nos fazem falar com voz de criança. E ser criança... E criançar.

O que será que eles têm?


Marie não é minha, é de Celina e Carol, mas tem ficado aqui em casa numa espécie de guarda compartilhada. 

Divide comigo os meus dias. Me exige carinhos e colinho. Além de comidinha na boca. (Acho que a estou mimando demais!). 

Mas quando ela deita num canto e me olha com seus olhinhos de bola de gude, redondos e bem pretos, e fica assim por um tempo, quietinha, me olhando, a vida fica mais leve. Ah, isso fica. E dá até pra se ter um certo otimismo.

Cachorrinhos deveriam ser vendidos em drágeas, como antidepressivos contra as mazelas do mundo. E, como medicamentos de última geração, teriam uma grande vantagem... Ao invés da tarja preta, trariam uma coleira de strass.

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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

POR PURA TEIMOSIA


Não vou dourar pílulas. Não. Tenho andado muito triste. É... Tenho andado. Esta semana, pela primeira vez, desde que criei o blog, não senti vontade de escrever. Não é que eu não tenha sobre o que escrever, que assunto não falta, mas não tive vontade.

Não tenho visto as coisas com bons olhos e a chegada da primavera pouco ajudou. (Primavera chuvosa... Esmirradiiinha...). Primavera que me lembra outras primaveras que chegaram cheias de boas intensões. Primaveras que se desfizeram em praças... Primaveras que silenciaram a grito... Primaveras que floresceram  desencontros... Primaveras sem flor.

Talvez eu esteja, irremediavelmente, ficando velhinha. Daquelas velhas chatas que, quando todo mundo está vibrando com algo, ela chega e diz com sua voz de falsete, Já vi este filme e ele não acaba bem! 

Já vi este filme... E ele não acaba bem.

Quando se cobre o rosto... Quando se quebra a praça... Quando se queima livros (Outro dia andaram queimando a constituição)... A História vai mal.

Não sei quem são eles... Eles que degradam as ruas... Infiltrados, delinquentes, rebeloides, paus mandados... Não sei...

Só sei que estamos pagando a conta de anos de descaso com o futuro. E o futuro está querendo cobrar a dívida... A marteladas.

A única coisa que ainda me anima é que vejo uma certa organização na balburdia.

Nos emprestam a praça para que se faça a História até às 20 horas de cada dia e depois... 

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Não devia ter tentado escrever este texto. Não tenho vontade. Estou muito cética. Perdi a força até para dizer que já vi este filme e que não há nada de novo neste happy hour pirotécnico. Coquetel molotov existe desde outros carnavais...

Na altura do campeonato, estou com muito medo de que a luz no fim do túnel que ainda teima em brilhar algumas vezes não seja o fulgor da esperança, mas sim,  um baita incêndio no canavial.

Esta semana, escrevo por pura teimosia...

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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

FOTOS DE BICICLETAS SÃO SEMPRE...




Semana passada, Miriam Jordão nos propôs no Facebook o desafio de completar a seguinte frase: Fotos de bicicletas são sempre...  

Aquela frase partida, ansiando por um final, logo me remeteu a uma antiga foto. Uma foto que fiz em 2010, lá pelos lados de Roma. A lembrança não foi apenas da foto, mas também, e principalmente, de um momento.

Tarde fria de fevereiro na Cidade Eterna e eu experimentava já há algumas semanas o prazer de perambular por suas ruas e monumentos e vielas e praças e fontes...

Perto de meu hotel, Trinità dei Monti. A igreja, os pintores de ocasião, o pequeno mirador, os balcões, as escadarias até a Piazza di Spagna. O frio de fevereiro avermelhava e adormecia minhas bochechas. Um sol morno e o céu azul. 

Gostava de passear pelas redondezas.  Ficar olhando o ir e vir dos turistas. As câmeras de última geração e os casais de namorados refestelados nos degraus depois da longa subida. Aquele balcão florido que me  despertava curiosidade. Que sortudo moraria naquele apartamento?

Um dia, decidi ir um pouco mais à frente, depois da igreja, e esbarrei em um palácio. Villa Medici. O poster na entrada me convidava a visitar uma exposição de uma escultora, acho que americana. Arte contemporânea. Entrei, visitei partes do palácio, me perdi por instalações... Mas algo me chamava para fora. Então, aceitei o convite e me entreguei aos jardins da Vila. Me entreguei à tarde levemente enevoada. Me entreguei ao friozinho que me adormecia as bochechas, cercada de muito silêncio e uma deliciosa solitude. Comigo ali, ninguém!


Pedrinhas no chão. Uma pequena escadaria, leões de pedra e,  ao longe, perdida no horizonte e no entardecer, a Catedral de São Pedro, o Vaticano.


Passeei entre árvores e fontes. 




O prazer de estar lá. O prazer de estar livre. O prazer de estar viva e poder perambular!

Até que, de repente, meu olhar distraído e encantado esbarrou em uma bicicleta amarela. Olhei a minha volta, procurando a sua dona. Sem dúvida era uma bicicleta de mulher. Olhei à volta, procurando a criança que a acompanhava com seu carrinho de brinquedo. Ninguém. Voltei a olhar para a cena...

A bicicleta amarela e novinha encostada em uma muralha de séculos. O chão de pedrinhas... Quem sabe a matéria prima das brincadeiras da criança... Por que será que achei que era um menino? Um pneu cortado pela metade se reinventando em jardim. A simplicidade e a delicada beleza daquela ervinha sem nome brotando ao acaso...

Não sei quanto tempo fiquei por ali. Ali, olhando aquela cena, aquela imagem. Decidi fotografá-la para, talvez, um dia escrever sobre ela. Sabia que ali morava Poesia. Que Poesia vive ao acaso em cantos e recantos, em quinas e esquinas, a espera que de um olhar. Fotografei.

E o tempo passou... Mais de três anos...

Às vezes me pergunto o porquê de aquele momento ter me envolvido e me emocionado tanto. Às vezes acho que foi porque desejei, ainda que por um segundo, ser aquela mulher que não conheci e ter o menino invisível como meu filho. E, depois da brincadeira no jardim do palácio,  poder levá-lo para casa e banhá-lo e fazer um jantar bem gostoso... Uma sopa, talvez, para aquela noite de frio. E embalá-lo cantando uma antiga canção de ninar... Até ele dormir.

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Agora já posso responder ao desafio proposto por Miriam na semana passada. 

Fotos de bicicletas são sempre... encantadas e nos remetem a outras fotos de bicicletas que nos remetem a jardins e a tardes frias e enevoadas quando nossas bochechas ficam vermelhas e levemente adormecidas.

Nota: Este texto é dedicado a Cassandra Melo Guimarães e Francisca Nóbrega. Duas professoras que me ajudaram a entender o prazer da leitura, o desafio da escrita e o oficio de olhar e ver.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

EM QUE POSSO TE AJUDAR?



Tenho que confessar. Às vezes sinto muita peninha de Deus. Sim. Desse Deus de catecismo. Deus com letra maiúscula.

Imagino Sua onipresente solidão. Imensurável.  Deus deve se sentir muito sozinho! Dessa solidão que dói. Solidão daquelas que se sente em certas festas, quando, à sua volta, todo mundo se diverte e você lá, em sua redoma de vidro. E, quando vêm falar com você, as palavras soam longe... Têm eco. Solidão de não encontrar Sua turma. De não encontrar parceria.

Em Sua infinita onisciência, Deus deve saber que fez a tudo e a todos em seis dias só para bater Sua meta. Devia ter negociado, pelo menos, mais um pouco. Certamente, teria atingido melhores resultados. Deus devia ter jogado o domingo no banco de horas, só para ter mais um tempinho. Devia ter negociado... Mas com quem? 

Penso nesse Deus onipotente. Como não deve se sentir frágil?  De mãos atadas, diante de tanto desacerto e ignomínia. Quantas vezes não deve se prostrar em Sua disfarçada e dolorosa onimpotência.

Tenho peninha de Deus.

Deus nunca teve o aconchego de um colinho de mãe e, muito menos, ouviu histórias de avó. Deus nunca se apaixonou!

Pra quem será que Deus reza quando sente aquela angústia forte no peito? Quando tem medo? Quando não vê saída? Será que Deus é ateu?

Deus não teve para quem apelar, quando Seu filho pediu por socorro. Não teve a sorte de Abraão que, na hora H, quando ia apunhalar seu rebento, teve Deus para desviar sua mão. Nada disso. Nenhum ser supremo afastou o cálice de Seu menino. Acho que Deus é ateu.

Tenho, sim, peninha de Deus.

Deus nunca teve recreio. Nunca andou de bicicleta. Nunca ficou de mal com um amigo. Deus nunca comeu jujuba!

Imagino que Deus, em noites de céu minguante, noites de escuridão, deva chorar baixinho. Choro que não deixa rastros, só um tantinho de orvalho espargido nas manhãs.

Deus deve fazer muito esforço para ser mal, injusto, ambicioso, egoísta, perverso, interesseiro e sovina, para manter viva a crença de que somos feitos a Sua imagem e semelhança. Criador imitando a criatura!

E toda a Sua crise de identidade? Ele com tantos nomes! Ele que não pode ser nomeado! Ele difuso e monolítico. Uno e sem direito a mitologias... Deus lá... Sozinho... Sem direito a terapia.

É por isso que às vezes, em tardes de céu azul, mas com aquelas nuvens bem brancas e gorduchas, eu olho lá para cima e fico só na espreita. De vez em quando, vejo um pedaço de Sua barba, um cacho de Seu cabelo, um pouco de Seu perfil. Vejo um mindinho ou a alça de Sua sandália...

Aí eu pergunto assim, sem pudor: Ei, Senhor. Pode me ouvir? Eu aqui, nesse cantinho de terra juntinho ao mar. Pode me ouvir? Em que posso Te ajudar?

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)