sexta-feira, 30 de agosto de 2013

DIA FRIOZINHO...



Dia bonito e friozinho neste já quase final de inverno. E aí me deu vontade de tomar um chazinho e relembrar Poesia.

Remexi minhas coisas. Revirei um tantinho de alma. Afinal encontrei:


UM CÉU DE AGOSTO
           
           sou céu de agosto
                   rabos-de-galo

me espalho em serras
                   no que há de nítido e preciso no horizonte

me achego
                   adentro

quando o sol me arranha
                   coxas e barriga

sou cor e luz
                    afago de estrelas é o meu unguento

e no correr do dia
                   voo cafifas
                         linhas sem cerol
                                bailo ao sabor do riso dos moleques

e quando o sol se esvai
                    menstruando a bainha do dia
                                           acendo estrelas num estalar de dedos

sou céu de agosto
                    rabos-de-galo
                               azulo por indignada teimosia


e quando solto o meu sorriso largo
                                                   tempestade é o que anuncio  

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com) 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

EM NOME DO PAI



Há algum tempo, estava conversando com uma amiga kardecista quando ela, do nada, me perguntou: Pat, você sabe rezar?

Fiz uma cara de espanto e disse que sim. Pelo menos as orações mais básicas, aquelas do catecismo. E, sem titubear, ela completou: Então reza. Reza muito. Que o mundo está precisando de muita oração. 

Continuamos a conversa por outros caminhos, mas aquele pedido ficou lá num canto guardado, escondido na memória. De vez em quando o recordo, quando notícias de tsunamis climáticos ou sociais invadem o meu dia a dia. Nossa! Preciso rezar pelo mundo. Rezar para pedir um pouco de paz.  

O que não tive coragem de contar para ela naquele dia era que eu não conseguia mais rezar para pedir coisas. Fazia muito tempo que eu não conseguia mais. Rezo para celebrar, para agradecer, mas para pedir... Não. Desaprendi.

Tudo começou com o meu pai já no CTI e eu convivendo com o meu desespero. A morte. A espera da morte. O fio de esperança... Tênue... Frágil... Mas um fio de esperança ao qual a gente se agarra como se fosse um cabo de aço puro.

Meu pai no CTI e minha tia me deu uma novena. Se agarra com ela. Reza muito e pede por ele. 

E eu rezei. Rezei. Rezei muito. O papel da novena ia amassando em minhas mãos. Palavras enrugadas e suarentas repetidas ao infinito. Rezei. Rezei muito. De pé. Deitada. Na porta do hospital. Sabia de cor já alguns trechos. E me agarrava a um fio de esperança... Tão frágil e tão tênue... Pedi pela vida. Pedi um milagre. Pedi sem saber o que pedir...

E, um dia, de tarde, o meu pai faleceu.

Eu já não era criança. Entendi que a vida termina. É parte do jogo morrer. Não perdi minha fé, mas... Não consegui mais rezar para pedir qualquer coisa. Já no Em nome do Pai, um pensamento paralelo e obsessivo se repetia. Não adianta rezar. Não adianta pedir. 

E fui deixando de pedir. Continuei agradecendo por tantas coisas. Continuei celebrando, mas deixei de pedir.

Ultimamente, tenho andado angustiada com as coisas do mundo. Essa confusão. Esse não dá pra entender. Essa passagem de um tempo pra outro que nem maremoto. Tenho andado muito angustiada.

Então, decidi voltar a pedir. Pedir pelo mundo. Pedir pela vida. Pedir, sem pudor, por mim também. Comecei há pouco tempo. No inicio, sem muita convicção, mas tenho melhorado a cada dia. 

E se todos nós, em todas as partes do mundo, decidíssemos pedir, em todas as línguas, insistentemente, PAZ? Mas paz sem considerações filosóficas ou ideológicas. Que todos sabemos o que é paz quando a sentimos. Paz sem elucubrações. 

Quem sabe se esse despudorado pedido não imantava o planeta e nos fazia mais simples, mais plenos e tranquilos.

Você aí, sabe rezar? Qualquer oração... Então, junte-se a mim. Eu que, timidamente, estou só começando...  Em nome do Pai... 

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

MAIS UM ANO



De novo, mais um ano. 56 anos! E me pego caindo na velha metáfora. Aquela coisa de águas que não voltam. Que não se pode mergulhar duas vezes no mesmo rio. Não deixa de ser verdade... Mas, quantos já falaram disso?!

E, no entanto, cá estou eu, sentada às margens e olhando a água correr. Entregue a um "Deixa a vida me levar... Vida, leva eu...".

Se minha história terminasse hoje, agora, o rio já teria valido a pena. Como todos os rios, teve seus dias de corredeira, enchente, inundação. Esbarrou em pedras. Teve de reinventar o seu leito, mas não se negou a seguir. Se entregou, muitas vezes, à correnteza e fluiu por fluir. Outras vezes, se fez cachoeira e espumou sentimentos os mais variados. Raiva, paixão, saudade, incertezas, amizade, medo, amor e solidão. 

Tenho tentado ser rio de águas limpas e, quando dá chance, invento uma praia de areia bem branca ou um lago onde se possa pescar o alimento da alma. Que a alma tem fome... Tantas vezes tem fome.

Na margem do rio, tento relembrar o quanto dessa minha água da vida serviu para irrigar alguns campos. Me pergunto, quanta planta bebeu de meu leito e cresceu e deu frutos. Tento, também, relembrar o que ficou pelo caminho, feito seixo perdido. Só pedra... Dura... Silêncio. 

Já vi muita paisagem bonita...

Na margem do rio, olho para o outro lado para prever correntezas e redemoinhos. E o olho se perde nas curvas que se perdem na bruma de um inicio de dia.

Não há mapa que indique a hora marcada de chegada à foz, onde se pode beber muita água salgada e se pode respirar ventanias... Não há mapa que indique.

Então, que eu deixe a vida me levar (Vida... Leva eu!). E que na correnteza dos dias, não me ponham barragens e nem me assoreiem caminhos. 

Mas... Se vier terra seca... Que eu possa adoçá-la e umedecê-la e transformá-la em terra fértil... Terra boa...  Húmus para se cultivar.

De resto... 56 anos... Deixa a vida me levar. Vida... Leva eu!

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com) 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

EMARANHADO



Nossa! Como tenho repetido: Nossa! A vida está muito complicada!


Já há algum tempo tenho tido uma certa dificuldade de entender as coisas. Eu, logo eu, que sempre tive opiniões formadas sobre quase tudo e um olhar atento aos eventos que me rodeiam. Não é por ser leonina não, mas sempre tive uma tendência a ter respostas para tudo. Ou, pelo menos, umas boas perguntas guardadas na algibeira. 

E, agora, esta confusão. Me sinto diante da prova de Física do Vestibular lá dos idos de 1975. Até que eu conseguia ler as questões, mas quem disse que descobria a resposta certa. Para mim, tudo se resumia a um imenso NDA (Nenhuma Das Alternativas).

E, agora, olho a  minha volta e... Não há mesmo alternativa. Virou tudo um grande caos. Física Quântica! Um nó cego, sem direito a uma explicação em Braille. 

Outro dia estava assistindo a uma entrevista com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Um de meus ídolos. E ele, do alto de seus muitos anos de vida, explicava que estamos em um intermezzo. Um momento da humanidade em que perdemos as referências. O que passou, passou. E o que virá... Ninguém pode antever com precisão. Enfim, estamos na parte do rio em que há corredeira (e das bradas!). E nós lá, em nosso caiaquinho.

O primeiro mundo quase deixou de ser primeiro e aí surgiram uns países grandes e estranhos que começaram a emergir. O que tinham eles em comum para serem considerados um novo bloco? A disparidade. Um saco de gatos que passariam a dar as futuras cartas. Mas, como nenhum deles sabia jogar Bridge,  decidiram jogar Buraco. E acredito  que todos eles já tenham pegado o Morto e  o pobre do de cujos não está cheirando nada bem.   Os emergentes estão com água pelo pescoço e nadam com braçadas largas... Em círculos. Quanto às disparidades? Bem, continuam um disparate!

Mas o mundo é muito grande e difícil mesmo de entender. Fiquemos por aqui, por nossa pequena prainha que, talvez, fique mais fácil...

Por exemplo, milhões de brasileiros saíram às ruas pleiteando coisas sérias, importantes... O pessoal berrou, esperneou contra a corrupção, contra a falta de ética, contra a malversação do dinheiro público, e, agora, quem virou capa da revista? Os Black Blocks. Eles... E suas reivindicações... Eles... E sua atitude... Eles... E sua postura... Ai, não estou conseguindo terminar a frase... Aqueles carinhas mascarados, infiltrados ou não,  que quebram tudo. (Por que será que sempre me remetem aos primórdios  do nazismo?)

Está tudo muito complicado mesmo. Todo mundo se fala. Todos se comunicam. Tudo se sabe de todos em todos os lugares e... Ninguém se entende. Estamos enfiados em uma cyberbabel que já chegou às nuvens (Desculpem o trocadilho.)

Tenho uma querida amiga que reage a meu ceticismo me explicando que o mundo realmente acabou em 2012 e que agora é algo novo que precisa ser construído. E eu pensando que quando o mundo acabasse, a gente ia direto pro Paraíso!

Tudo, um grande emaranhado! Como na foto aí em cima.

Mas esperem... Olhando com cuidado... Não é que lá, bem no alto, entre galhos secos e alguns espinhos... Lá no meio de um nada agreste e vazio... É isso mesmo. Está guardado um ninho!

Fico pensando que tipo de ovos estarão guardados nele... Serão de serpente? Ou de passarinho? 

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

UMA CERTA VISITA



Não fui ver o Papa. Embora estivesse tão pertinho, não fui ver o Papa. Talvez por comodismo... Preguiça... Ou pela absoluta certeza de que, se eu fosse ver o Papa, não o veria, ou o veria por trás de uma muralha de ombros.

Preferi ficar em casa. Ver o Papa pela televisão. Receber os amigos. Conversar e discutir sobre as suas falas e seus silêncios e suas entrelinhas... Decidi ficar em casa e curtir o friozinho, os amigos e ver o Papa pela TV.

E assim, Jorge Mario Bergoglio foi entrando em minha casa e invadindo a minha rotina. 

Sou católica de formação, mas tenho andado muito afastada dos ritos e das obrigações. Discordo com frequência de coisas e aí não me sinto a vontade de dizer que faço parte... Tenho muita fé e celebro milagres como o amanhecer ou a plenitude de um bem estar... Mas daí dizer que faço parte do grupo... Não me sinto a vontade.

Bergoglio, no entanto, não deu muita bola para os meus escrúpulos e foi se refastelando em meu olhar. E foi me mostrando umas coisas...


Por exemplo, que Copacabana é espaço sempre mágico... Copacabana é... Tal qual Madalena (aquela da Bíblia). Fêmea. Colo macio. Generosa, oferece suas areias para quem nelas quiser se aconchegar. 

Bergoglio também me mostrou que ainda se pode ter brilho no olhar. E olhar. E olhar para o outro com uma transparência que eu pensava que havia se perdido em tantas segundas e terceiras intenções. (E que me perdoem os eternos arautos das teorias da conspiração... Realmente acho que ele acredita no que diz. E diz o que acredita.) 

Fico pensando se ele vai conseguir segurar tranco e continuar a ser o que se mostrou ser. Será que ele consegue se preservar em um mundo que há algum tempo esqueceu delicadezas? Em um mundo onde a palavra de ordem é desordem e onde se globalizou a desunião?

Mas ele estava ali... E cercado de jovens... Com suas bandeiras e sonhos e aquele teimoso desejo de fazer um mundo melhor e mais justo.

(Jovens de diferentes lugares e tribos, que, nessa mesma semana, outros saíram também por outras vielas e ruas... Exercendo seu teimoso direito de discordar.)


Foi uma boa visita. Bergoglio me fez muito bem. Com seu jeito direto e simples, jeito de quem quer e precisa mudar tantas coisas, me reacendeu esperanças e me ajudou a ver que ao final do túnel tem sempre uma nova geração com uma  imensa vontade de acertar.

Então... Que assim seja. E que todos os anjos, teimosamente, digam Amém! 



Nota: Fotos by Eulália Fernandes 

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)