quinta-feira, 29 de novembro de 2012

UMA FOTO DE LONDRES

 
É ... Já não se fazem mais Londres como antigamente!
 
Depois de passar uma semana cercada de castelos no Vale do Loire, aqui estou eu em um dos cable cars da Emirates Airlines a olhar para esta Londres do século 21. E fico pensando enquanto vou descobrindo a paisagem e um comovente por de sol... Por onde andam o chá das cinco, Sherlock Holmes, Eliza Doolittle, Mr. Higgens e seus afins? Nem quero falar de Shakespeare, para não parecer muito arcaica...
 
Sumiram?
 
Que nada... Eles e muito mais continuam impregnando esta cidade mutante. Às vezes tão cinza, tão triste, tão úmida... Às vezes, feita de um róseo anoitecer...
 
Bem de perto, o Tâmisa a perscruta, decifrando na correnteza do tempo, seu enigma e sua beleza... Entre telhados de ardósia e mega arranha-céus.
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

TEM UMAS COISAS NA VIDA....



Não. Não, eu não vou filosofar. Não é o momento e nem a hora de filosofar. Já é tarde da noite e amanhã seguimos viagem... Vale do Loire. Mas, há uma semana, eu estava de pé para o alto, na cama, seguindo ordens do médico e infernizando Silvio com as minhas ordens. Não tinha idéia se poderia fazer a viagem tão esperada e planejada desde maio.

Não entendia o porquê do buraco na calçada. Estava furiosa com  as pedrinhas portuguesas. E me sentia desalentada...

Não mais que dez dias ao todo... E tive amiga Eulália indo à Policlínica me aplicar Reike enquanto o ortopedista me atendia. Tive Celina fazendo todas as promessas do mundo já por aqui, na Southwark Cathedral. Tive um monte de amigos me ligando, desejando melhoras. Tive minha querida amiga Soraya me dizendo, Você vai... E me entregando uma bengala, que eu tenho certeza que é mágica, porque, literalmente me fez voar.

Não... Não vou filosofar. Pelo menos por agora, não  quero tentar entender porque as coisas aconteceram desse jeito... Quando eu voltar para o Rio, tento entender a mensagem. Agora não...

Hoje estive na Chapelle de la Medaille Miraculouse e agradeci... Também pela viagem, mas principalmente pelo carinho de tanta gente que torceu por mim.

Ainda preciso da bengala para caminhar com segurança. Fiquei com medo de calçadas!


Não. Não vou filosofar... Não estou com tempo... Amanhã a viagem continua...

E se o pé ainda dói... Os olhos e o coração estão plenos para caminhar por bons momentos e novas e deliciosas recordações.

(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PEDRINHAS PORTUGUESAS

 
A calçada portuguesa ou mosaico português (também conhecida como pedra portuguesa no Brasil) é o nome consagrado de um determinado tipo de revestimento de piso utilizado especialmente na pavimentação de passeios e dos espaços públicos de uma forma geral. Este tipo de passeios é muito utilizado em países lusófonos.
 
A calçada portuguesa resulta do calcetamento com pedras de formato irregular, geralmente de calcário e basalto, que podem ser usadas para formar padrões decorativos pelo contraste entre as pedras de distintas cores. As cores mais tradicionais são o preto e o branco, embora sejam populares também o castanho e o vermelho. Em certas regiões brasileiras, porém, é possível encontrar pedras em azul e verde. Em Portugal, os trabalhadores especializados na colocação deste tipo de calçada são denominados mestres calceteiros (!!!!!grifo e espanto nosso)
 
Em1986, foi criada uma escola para calceteiros (a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa) e em Dezembro de 2006, foi inaugurado também um monumento ao calceteiro, sito na Rua da Vitória na baixa Pombalina.
 
Sobre a técnica: Os calceteiros tiram partido do sistema de diaclases do calcário para, com o auxílio de um martelo, fazerem pequenos ajustes na forma da pedra, e utilizam moldes (!!!!!grifo e espano nosso) para marcar as zonas de diferentes cores, de forma a que repetem os motivos em sequência linear ou nas duas dimensões do plano (padrões).
 
Nota: ref. Wikipédia
 
Aqui, deitada em minha cama, com o pé para o alto e torcendo para que melhore para que eu possa fazer uma viagem que está planejada desde maio, posso me dedicar à leitura de amenidades, como este pequeno e singelo texto sobre as calçadas de pedra portuguesa.
 
Descubro, com admiração e certa surpresa, que, para a sua feitura, são necessários mestres calceteiros que são treinados em uma escola e que, pela importância de seu trabalho artístico, mereceram um monumento!
 
(Ai! Me virei na cama e o pé doeu!)
 
Desvanecida, aprendo sobre a cuidadosa técnica de colocação das pedrinhas, simétricas, seguindo um padrão predefinido por moldes, geometricamente planejados.
 
(Tô também com dor no nervo ciático por causa de minha posição na cama.)
 
Observo, entre atenta e deslumbrada, as fotos dos imensos e planos!!!! mosaicos que se espraiam por espaços de Lisboa. 
 
Volto ao texto... Pesquiso outras bibliografias, mas não encontro nada sobre o estilo despojado e irrequieto das calçadas cariocas. Mentira, algumas fotos das calçadas de Copacabana para marcar nossa presença. Nada mais.
 
Onde estarão as observações sobre a refinada técnica desenvolvida em solo tupiniquim de deixar, a espaços irregulares (fundamental para o estilo) pequenos ou mesmo grandes buracos nos quais a pedra basáltica foi retirada pela chuva, pelo vento ou por uma obra da Light? Também não encontro informações sobre as medidas milimétricas que devem ser tomadas para se fazer aqueles pequenos montículos, onde o desavisado pedestre deverá (por força de tradição) dar uma topada e quebrar pelo menos um dedo, ou ainda melhor, tropeçar e cair de boca no chão, quebrando alguns dentes.
 
Com tempo, que é o que não me falta agora, aprofundo minha pesquisa, mas não encontro nada sobre a simétrica irregularidade do calçamento e nenhuma observação (nem mesmo nas áreas da botânica) sobre o levantamento do piso e retirada das pedrinhas quando as raízes das árvores estouram nossas calçadas. Nada também sobre as pedrinhas soltas (de diferentes cores) que têm a nobre função de dar rasteiras nos transeuntes, provocando escorregões, quando normalmente se fratura uma perna, ou um braço ou apenas se tem uma luxação. Nada!
 
Porém, o que mais me fez falta na pesquisa, foram informações sobre alguma Escola para Calceteiros cariocas. Tentei de tudo. Sebrae. Sesc. Coppe. Telecurso 2° grau. Nada. Creio que não precisamos de treinamento já que somos um povo inventivo e empreendedor. Encontrei, no entanto, dados, ainda não confirmados por historiadores, que registram a necessidade de formação prévia para a feitura das calçadas (ou pelo menos para sua manutenção)...
 
(Ai! O meu pé tá um pouquinho dormente!)
 
Retomando o assunto. Para se fazer a manutenção adequada das calçadas tupiniquins, o profissional deve ter formação de zelador, ajudante de pedreiro ou amigo desempregado do síndico. As ferramentas para tão nobre ofício são de baixo custo, tais como: um pedaço do papel do saco de cimento (se possível o saco todo estiradinho no chão) onde se vira o concreto (com areia da praia?); uma pá de pedreiro e um punhado de pedrinhas portuguesas que estavam soltas na calçada do vizinho. Não é exigência para se fazer a tarefa, mas se for possível, óculos... de grau, caso o profissional tenha problemas oftalmológicos. Sem uma visão 20 por 20, a imprecisão da calçada não será a mesma.
 
Por sua importância histórica e, por que não dizer também, médica, já se pensa em fazer um monumento, não para os mestres calceteiros locais, mas para as vítimas destas armadilhas lusitanas. Soube, inclusive, que a Rede Globo já está preparando uma campanha para o próximo verão, campanha esta que substituirá a competição Menina do Fantástico. Vai se chamar The Fucking Victim (em inglês sempre fica melhor!) onde será escolhida a vítima ideal ou o tombo mais perfeito que será, então,  imortalizado em bronze, em mais um monumento para nossa maravilhosa cidade.
 
(A médica disse que eu vou poder viajar se ficar bem quietinha... Ainda bem!)
 
Nada como um tempinho livre para se aprender coisas novas! E, como nunca deixo de ser professora, divido com o meu leitor duas fotos com os diferentes estilos da arte de se desenhar com pedrinhas portuguesas: O estilo lusitano e o carioca. Será que dá para descobrir qual é qual?
 



Calçada estilo ................?

Calçada estilo .................?

 


 Será que deu pra adivinhar?
 
Nota final: Se você acha que tem alguma coisa a ver com este texto (alguma cicatriz antiga, ou mesmo nova), favor repassa-lo para alguns de seus amigos... Alguém é amigo do prefeito ou do secretário de obras?
 
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

AQUI BEM PERTO

 
Ontem estive na casa de Ruy Barbosa (Rui Barbosa? As duas grafias se perdem pelos jardins da mansão). Aqui em Botafogo... Aqui, bem pertinho... Quanto tempo fazia desde a última vez que estive por lá?
 
Apesar de a tarde ter sido estranhamente tranquila para quem estava em plena Rua São Clemente, não é sobre a casa que quero falar.
 
Quero falar de pertinhos. De aquis.
 
Já não me lembro da última vez que subi ao Corcovado. Há muito tempo não vou ao MAM e faz anos desde que visitei o Museu de Belas Artes. Estou sempre me prometendo fazer os passeios, mas ai o tempo passa... E eles estão aqui tão pertinho... Deixa pra semana que vem.
 
Muitas vezes passo pelas praias de Ipanema e Copacabana, com um olhar blasé, reclamando do trânsito e, no Aterro, tem dias de pressa em que nem me apercebo que o Pão de Açúcar e o Cristo estão ao meu redor, em um abraço forte e azulado.
 
Engraçado, transgredindo todas as leis da física, tudo que está muito perto da gente fica menor. Às vezes, muito menor.
 
Se isso vale para uma montanha do tamanho do Pão de Açúcar, imaginem de que tamanho ficam essas coisinhas como... Deixa eu ver... Ah!... Um carinho de amigo. Um olhar rotineiramente apaixonado. Um sorriso solidário de uma pessoa que passa por você. Um silêncio, rápido e eventual, que vale por mil palavras. Essas coisas prosaicas, como um... Eu pensei em você.
 
é um lugar mágico, onde tudo é melhor (e maior!). E é o no espaço e no tempo também. Somos todos personagens do Meia Noite em Paris de Woody Allen. Ainda que a nossa Paris seja em Singapura ou na Basileia. Esteja no passado remoto ou em futuro distante. O bom está LÁ... E eu aqui comendo mosca!
 
Quantas vezes olho pela janela, sem olhar. Quantas vezes olho pela janela, por olhar. Quantas vezes... Nem vejo a janela!
 
E, então, o aqui vira buraco de fechadura, por onde se espreita, à espera de algo... Mas algo que seja ALGO... E que nunca chega. Que sempre se adia. Que se perde no tempo.
 
Talvez um dia a gente encontre umas lentes convexamente côncavas que permitam que todos possam ver o aqui (e por que não o agora também?) com um olhar de primeira vez. Como se  tudo fosse paisagem distante e estrangeira. Aqui de cartão postal.
 
Talvez desse pra se ser mais feliz... Ou não... Quem sabe a magia da vida esteja exatamente nessa nossa eterna e tola esperança de que lá, ou mesmo ali, é um lugar bem melhor. Talvez...
 
Mas que, pelo menos, apreciemos a viagem com calma e despojamento, sem angústias e ansiedades... E, principalmente, sem dar um overbooking nos tesouros rotineiros (grandes ou pequenos) que estão ao alcance de nossas mãos.
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O ROSTO DO ROSTO

 
 
Cheguei sã e salva. Há um mês atrás estava em Nova York, depois Houston... Mas o Sandy não me pegou. Viajar para os Estados Unidos em época de furacão é sempre uma aventura... Mas cheguei sã e salva.
 
E na chegada, a surpresa. Cheguei na varanda e descobri que Lourdinha já era avó. Lourdinha Carnaval, a amiga bromélia, com quem dividi tantas tardes e emoções. Minha amiga que feneceu me deixando filhotes... Já é avó.
 
O broto ainda bebê me olhou desconfiado. Era a primeira vez que me via. Eu não. Reconheci em seu rosto, o rosto da amiga. Da amiga jovem, quando chegou aqui em casa, pronta para cair na farra. Cair no samba. Às vésperas do carnaval. As mesmas pontinhas ainda verdes. O mesmo amarelo solar. É um broto menina, disso tenho certeza, mas ainda não sei o seu nome. Acho que vai ser Nicholeta. Isso. Nicholeta com ch.
 
O rosto do rosto... Reflexo com alma e suas próprias paixões...
 
Não me pareço fisicamente com minha mãe. Às vezes, quando me olho no espelho, num de repente, num por acaso, consigo revê-la em meus pequenos gestos. Um olhar de soslaio, um riso de canto de boca, um revirar de cabeça. Tento abraçar esses momentos, rápidos, difusos, mas eles se diluem no ar.
 
Como não tive filhos, meu rosto não está destinado a mágicos mimetismos. Nunca vai se descobrir em outros rostos. Não tenho espelhos que me sirvam de par. Nem côncavos, nem convexos. Minha imagem, um dia, partirá comigo para algum lugar. Posso deixar algumas pegadas e alguma sombra, dessas que se alongam em por de sol praieiro, mas meu rosto seguirá comigo.
 
No futuro... Talvez seja algumas fotografias. Talvez.
 
Às vezes sofro de abstinência de continuidade.
 
Por isso fiquei feliz, muito feliz, quando cheguei na varanda e encontrei no rosto de Nicholeta, o rosto de minha amiga, refeita menina, com pontinhas ainda verdes e com seu amarelo solar.
 
Saboreei com cuidado esse bocadinho de eternidade e sorri com esperança... Será que Nicholeta, como sua avó, vai saber sambar?
 
 
 
 
(Lourdinha Carnaval ensaiando os seus passos para desfilar na Avenida)
 
Nota: Outros textos que podem interessar: LOURDINHA CARNAVAL , UMA FÁBULA e FILHOTES DE BROMÉLIAS

 
 
(in pblower-vistadelvila.blogspot.com)